Papo de Maria é um site, fruto do projeto CAFÉ DAS MARIAS, que teve início em junho de 2011 , tendo como precursoras Bibiani Fassio Fontes e Rebeca Amaro Pereira. No início, o café acontecia de uma forma natural, com a troca de experiência entre amigas, sobre vida conjugal, sexual e familiar. Em pouco tempo, a procura pelo café das marias tomou proporções inesperadas, atingindo a marca de 350 mulheres participantes, que contribuindo com suas experiências, possibilitaram a ampliação do repertório de abordagens como também o desenvolvimento de novos temas. Desde então, as reuniões passaram a ser agendadas, e atualmente ministradas por Rebeca, que exterioriza sua Maria Beca, e trata de assuntos inerentes à alma feminina. Além de um trabalho de auto ajuda ou reconstrução da identidade, como queira chamar, Maria Beca contextualiza a Mulher historicamente, e dessa forma, trabalha a conscientização das participantes, reformulando conceitos e valores machistas, que foram tão presentes em nossa sociedade desde sempre. MARIA foi o codinome escolhido para definir todas as mulheres. Tanto as santas quanto as pecadoras , as marias gasolina, marias sapatão, marias sem vergonha, marias muleque, marias fofoqueiras e tantas outras marias que vão sendo reveladas nesses encontros. Cada tipo de Maria é analisada a partir de um olhar humanizador, quebrando as correntes dos pré-conceitos e promovendo acima de tudo a compreensão e a aceitação das diversas realidades de marias. O sucesso do café das marias se deve a criação de um ambiente propício a satisfazer a necessidade que as mulheres tem de expor suas crises, seus problemas, compartilhar sua história, pois encontram pessoas dispostas a ouvir e unir forças , dividindo assim o peso do cotidiano e da responsabilidade de ser uma mulher moderna.

By Mª Cell

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um conto, Por Marcelli Oliveira

A Cliente

Eva, a heroína trágica do livro de gêneses. A primeira a sujar os pés na lama do Planeta Terra.
Protótipo de Mulher, desprovida de qualquer referência feminina. Eva não tinha mãe.
Eva, constituída de barro e livre arbítrio.
Expulsa do paraíso por sua atitude calamitosa.
De tão inocente, teria sido enganada?
De tão indecente, teria sido mal intencionada?
De tão imprudente, teria sido manipulada?
Eva, pressentindo a conseqüência do seu ato, se escondeu. Percebeu que estava nua, despida de si mesma.
Apontar a serpente não amenizou sua culpa, e não lhe cabia o Direito de perorar a seu próprio favor.
Tomada de vergonha e resignação, sua alma experimentava agora a aflição dos que caminham em direção ao exílio, à perda, ao castigo.
Eis que uma voz, comparada ao som de mil trovões, proferiu a sentença que marcaria sua descendência: “...O teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”.

Sete anos se passaram. Eva está assentada à beira de um rio, de onde podia avistar Adão, na margem oposta, colhendo frutos.
A imagem lhe remete a dolorosa lembrança de seu passado.
Para além do pensamento recorrente, abstraindo agora sobre o pecado original, neste momento uma súbita lucidez invadiu seu subconsciente. Esta ação orgânica ativou em sua essência o sexto sentido - o aguçar das percepções; e ela pode então analisar de forma consciente, perpassando a influência de Adão sobre sua própria existência, desde sua criação até a ruína de sua identidade.
Ela pode refletir que:
Do homem foi tirada a matéria-prima que a compôs, portanto Eva mantém uma relação de dependência, tanto física quanto emocional.
Sobre o homem, diferindo anatomicamente da mulher por ser mais forte e resistente, Eva criou a expectativa de que naturalmente seria protegida por ele.
Visto o homem, como criação primeira, Eva teve nele o referencial de sabedoria, de aconselhamento, de direcionamento.
Lembrou-se que no momento em que foi tentada pela maldita serpente, Adão não estava ao seu lado.
Quando confundida e enganada, oferecendo o fruto ao parceiro, o mesmo compartilhou de seu erro, mordendo a maçã.
Sendo descoberto o erro, o homem evidenciou como culpada a companheira que a ele foi dada.

A primeira sentença foi imposta a Eva. “...O teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”.

Mas Deus, em sua misericórdia, repensou seu momento de ira contra a Mulher, aquela que foi criada para gerar os filhos da humanidade, e compensou-a, potencializando todas as suas qualidades a fim de ajudá-la em sua evolução como pessoa, para que não dependesse exclusivamente do homem para se sentir completa.

Após muitas gerações, entre decepções e aprendizados, as mulheres desenvolveram a capacidade de conviver com os homens não através de uma relação de dominação, mas de harmonia e de complementação, que só são possíveis graças ao dom desenvolvido por elas.


E a maior de todas as constatações feitas por Eva neste fim de tarde foi que guardar mágoas do SEU HOMEM é como ruminar uma antiga maçã, que se mastiga, se engole e mastiga novamente, amargando a relação e conseqüentemente a vida.

Mª Marcelli Oliveira


Mulher, você também erra, eu posso afirmar com propriedade de causa. Porém é teu o dom e a missão de perdoar, consolar, pacificar, consertar, orientar e principalmente amar, mas amar para além do que se é capaz.
Eva, a cliente absolvida.